Buddhismo
Boomeritis

Ken Wilber

"A exist�ncia do Buddhismo "boomeritis" exige particularmente um sofisticado modelo psicoespiritual para que possamos delinear seus contornos. Isto exige, ao m�nimo, o que n�s chamamos um modelo est�gio-4, que inclui todos os quadrantes, todos os n�veis, todas as linhas, todos os estados, todos os tipos ? � muita coisa, n�o? Como muitos de voc�s sabem, neste semin�rio introdut�rio sobre boomeritis estamos usando apenas o modelo est�gio-2 - ou uma Espiral de desenvolvimento em forma de escada, porque este � o mais simples modelo que pode lidar de forma essencial com os pontos; mas quando surgem as sutilezas do desenvolvimento espiritual, estes tipos de modelos-escada n�o funcionam muito bem.

"O modelo que n�s usamos no IC � mais complexo, mas at� onde n�s podemos dizer, ajusta os dados pertinentes (e quando n�o o faz, n�s o mudamos, ou certamente tentamos). Neste momento ele inclui os quatro quadrantes--intencional, de comportamento, social, e cultural-- assim como os fen�menos extremamente importantes de n�veis e linhas (ou ondas e fluxos)--a id�ia � que diferentes linhas desenvolvimentais (por exemplo, cognitiva, moral, interpessoal, espiritual, emocional, art�stica, cinest�sica, etc.) procedem de uma forma relativamente independente pelos v�rios n�veis/ondas/est�gios de consci�ncia (por exemplo, pr�-convencional, convencional, p�s-convencional), de forma que uma pessoa pode estar em um n�vel bastante alto de desenvolvimento em algumas linhas, m�dio em outras, e baixo em ainda outras--assim, h� muito pouco que seja linear acerca do desenvolvimento global.

"Este modelo integral tamb�m inclui os fen�menos importantes dos estados e est�gios--isto �, uma pessoa pode ter uma experi�ncia de pico ou estado alterado de consci�ncia a virtualmente qualquer est�gio/n�vel/onda de consci�ncia. Estados alterados s�o de (pelo menos) quatro variedades principais, representando quatro estados extensamente presentes, naturais de consci�ncia--de alerta (total), de sonho (sutil), sono profundo (causal), e n�o-dual (nos dando estados espirituais tais como, respectivamente,: misticismo de natureza, misticismo de deidade, misticismo sem forma, e misticismo n�o-dual. Veja: 'Os Estados e Est�gios).

O que isto significa, para dar um r�pido exemplo, � que algu�m no, digamos, est�gio azul de desenvolvimento pode ter um estado alterado ou experi�ncia de pico de um estado sutil--digamos, uma experi�ncia de Luz divina ou Luminosidade interior--mas a pessoa tender� a interpretar aquela experi�ncia pelo aparato mental que desenvolveu em seu caso particular. Neste exemplo, a pessoa interpretar� a experi�ncia espiritual em termos do replicador azul, em cujo caso ver�amos algo como a experi�ncia fundamentalista de 'renascimento': esta pessoa sente, com certeza absoluta, que Jesus veio pessoalmente a ela, e que ningu�m pode ser salvo a menos que aceite Cristo como seu salvador pessoal. A experi�ncia do estado sutil � muito real e aut�ntica, mas � interpretado atrav�s do n�vel mental "replicador azul" m�tico-grupal, concreto-operacional.

"Essencialmente a mesma coisa acontece com os outros n�veis principais ou est�gios ou ondas de desenvolvimento. Uma pessoa em virtualmente qualquer est�gio de consci�ncia pode ter um estado alterado de consci�ncia (total, sutil, causal, ou n�o-dual), mas ela interpretar� aquela experi�ncia pela lente da est�gio geral que est�--quer dizer, interpretar pelas estruturas mentais que possui ou aquelas j� emergentes em seu desenvolvimento. Uma pessoa pode ter uma profunda experi�ncia-satori de pura Vacuidade (o reino sem forma), mas aquela pessoa geralmente interpretar� esta experi�ncia espiritual nos termos de seu est�gio comum de desenvolvimento (por exemplo, uma pessoa cujo centro de gravidade � azul interpretar� estados alterados principalmente em termos azul ou m�ticos; uma pessoa verde os interpretar� em condi��es pluralistas, e assim por diante)".

Existem, claro est�, uma grande variedade de estados alterados de consci�ncia que est�o dispon�veis aos homens e mulheres sob diferentes circunst�ncias, mas, como indicado, h� pelo menos tr�s estados principais dispon�veis para virtualmente todo o mundo: alerta, sonho, e sono profundo, e esses estados podem dar origem, como j� sugerimos, a experi�ncias espirituais tais como misticismo de natureza (ou unidade com o reino grosseiro), misticismo de deidade (ou unidade com o reino sutil), e misticismo sem forma (ou unidade com o reino causal). N�s tamb�m acrescentamos consci�ncia n�o-dual, que muitas tradi��es mant�m como a sempre-presente mente comum. O ponto simplesmente � que muitos destes estados alterados profundos est�o dispon�veis aos indiv�duos em virtualmente qualquer est�gio de desenvolvimento, simplesmente porque todo o mundo est� alerta, sonha, e dorme.

"Incidentemente, � importante entender por que as grandes tradi��es de sabedoria--inclusive Buddhismo, Hindu�smo, Cristianismo, Juda�smo, Tao�smo, Shamanismo, e tradi��es ind�genas--n�o tenham nenhum modelo de est�gio como este da Din�mica Espiral. N�s analisamos esta id�ia extensivamente em outros semin�rios [veja Sidebar G, subt�tulo, "Two Types of Stages, and Why the Contemplative Traditions Only Have One of Them"; e especialmente o Sidebar I e Sidebar J, a serem enviados em breve.] Mas a id�ia geral � bastante simples: as ondas de consci�ncia de desdobramento descobertas por pessoas como Clare Graves, Abe Maslow, Jane Loevinger, Robert Kegan, Susann Cook-Greuter, et al., s�o est�gios intersubjetivos/interobjetivos, n�o est�gios meramente subjetivos, e portanto n�o podem ser captados atrav�s de pr�ticas como medita��o, contempla��o, introspec��o, e assim por diante. Eles s�o fundamentados principalmente nos mais baixos quadrantes, n�o nos quadrantes superiores, e assim escapam da Fenomenologia e hermen�uti ca em grande parte (e da aten��o das tradi��es de sabedoria). Esta, desnecess�rio dizer, � uma s�ria defici�ncia, que pode ser remediada atrav�s de uma psicologia mais integral. As grandes tradi��es n�o est�o erradas, apenas muito parciais nesta quest�o, mas isso � bastante f�cil de resolver!

"Certo, assim olhemos para os fen�menos de estados e est�gios que usam a Din�mica Espiral como exemplo. Como est�vamos dizendo, uma pessoa em vermelho pode ter um estado alterado de experi�ncia grosseiro, sutil, ou causal (por exemplo, uma pessoa em vermelho pode ter uma experi�ncia de pico de misticismo de natureza, misticismo de deidade, ou misticismo sem forma). Uma pessoa em azul tamb�m pode ter um estado alterado de experi�ncia grosseiro, sutil, ou causal. E igualmente poderia o laranja, verde, amarelo, e assim por diante. Em outras palavras, usando este modelo simples como exemplo, cada um dos 8 est�gios pode experimentar os 3 estados principais. Isto nos d� uma grade de 24 tipos diferentes de experi�ncias espirituais. Nossos investigadores aqui no IC acharam exemplos aceit�veis de todos os 24 (exceto nos limites extremos, onde as coisas se esvaecem). [Veja Sidebar G, subt�tulo: 'A Lattice of Altered States'; Integral Psychology; e Combs, The Radiance of Being, second revised edition.]

"� minha opini�o que cada uma dessas experi�ncias espirituais �, ou pode ser, uma real e aut�ntica experi�ncia. Por�m, essas experi�ncias s�o interpretadas mais adequadamente quanto mais alto for o est�gio que os experimenta. Uma experi�ncia turquesa do Sagrado, por exemplo, atestaria o fato de que o Divino � livremente oferecido a todos os seres sens�veis, por outro lado uma experi�ncia azul do Sagrado sustentaria que Deus s� � oferecido a algumas pessoas escolhidas, ou apenas para os poucos que abra�am esta vers�o particular de Deus, ou apenas para esta na��o, e assim por diante--em outras palavras, azul � o Esp�rito etnoc�ntrico, turquesa � o Esp�rito holoc�ntrico. Embora esses dois indiv�duos possam ter tido uma experi�ncia espiritual aut�ntica (neste caso, a experi�ncia de um real, muito aut�ntico estado sutil), a interpreta��o turquesa � mais adequada ao Esp�rito que a do azul porque o turquesa tem mais profundidade desenvolvimental e � portanto mais inclusivo e mais integral.

"Esta abordagem pode nos ajudar a dar sentido a muitas experi�ncias aparentemente contradit�rias. Por exemplo, o Shamanismo � uma profunda t�cnica de indu��o aos estados alterados de natureza ps�quica e sutil. Por isto � justamente respeitado por muitos contempor�neos que procuram por uma sa�da da "terra plana" [o mundo excessivamente superficial]. Ao mesmo tempo, o shamanismo emergiu originalmente em estruturas tribais que eram p�rpuras e vermelhas, e assim as interpreta��es que cercam alguns destes estados sham�nicos s�o, pelos padr�es de hoje, um pouco problem�ticas, antiquadas, restritivas, ou at� mesmo regressivas. O truque � ser capaz de alcan�ar a tecnologia de estados alterados mas ajust�-las a interpreta��es mais adequadas (por exemplo, turquesa ou mais altas). Mas o shamanismo em si mesmo--o shamanismo original--era, usando termos suaves, uma boa miscel�nea. Surgiu em culturas que eram profundamente etnoc�ntricas, que freq�entemente praticavam t�cnicas forrageiras de corte-e-queimada, que achavam o infantic�dio uma necessidade, que agressivamente dividiam o mundo em 'n�s' contra 'eles', e cuja estrutura tribal os mantinham firmemente longe de uma compaix�o holoc�ntrica. Assim vamos ter cuidado com o que n�s louvamos, sim? N�s n�o estamos negando que os estados sham�nicos eram ESTADOS mais altos--mas a quais EST�GIOS voc� os est� ligando?

"Em outras palavras, a exist�ncia de estados e est�gios � muito importante porque nos ajuda a entender o fen�meno do Buddhismo boomeritis--ou a espiritualidade boomeritis em geral, seja afetando o shamanismo, misticismo da natureza, ecofeminismo, misticismo de deidade, espiritualidade descendente, Cristianismo contemplativo, Neo-Vedanta, Kabbalah, ecologia profunda, e assim por diante".

"Em poucas palavras, aparentemente o Buddhismo boomeritis?e a espiritualidade boomeritis em geral--acontece quando o centro de gravidade de uma pessoa est� na id�ia-replicadora verde, entretanto aquela pessoa tem uma muito real, muito aut�ntica experi�ncia de algum dos estados de consci�ncia transpessoal e transracional. Especialmente durante os estados meditativos de consci�ncia, uma pessoa pode experimentar uma gama larga de eventos transracionais, incluindo estados sutis de experi�ncias vision�rias (misticismo de deidade, savikalpa samadhi, Sambhogakaya), estados causais de consci�ncia sem forma (Vacuidade do imanifesto, nirvikalpa samadhi, Dharmakaya), e at� mesmo de consci�ncia n�o-dual (sahaj samadhi, Svabhavikakaya, Experi�ncia Una n�o-dual)".

"Mas por mais aut�nticos que esses estados verdadeiramente sejam--e ningu�m est� negando isso! ? eles s�o imediatamente capturados e interpretados pela id�ia-replicadora verde. Por conseguinte, a pessoa interpreta o Buddhismo --ou simplesmente suas pr�prias experi�ncias espirituais?como significativo de que a espiritualidade aut�ntica deve ser anti-hier�rquica, relativista, uma quest�o principalmente de compartilhamento participat�rio, focalizada no di�logo atencioso, um democr�tico abandono de qualquer posi��o de autoridade entre o professor e o estudante ('o sangha � o buddha'), negando qualquer classifica��o e julgamento, encorajando uma multiplicidade e diversidade de verdades igualmente v�lidas, afirmando uma pluralidade de princ�pios espirituais, desenfatizando a ilumina��o uma vez que qualquer estado 'mais alto' poderia marginalizar algu�m, enquanto v�-se o professor espiritual como apenas um amigo com quem n�s caminhamos o n�o-hier�rquico caminho espiritual, de m�os dadas como iguais, enquanto dispens amos a intensa disciplina e negamos que o despertar seja qualquer coisa diferente do lavar a roupa com algum tipo de consci�ncia..."

(...) "Novamente, n�o � que esses fatores estejam errados, ou sejam ruins, ou incorretos. Antes, pertencem essencialmente ao sistema de valores da id�ia-replicadora verde, e como tal, eles n�o participam dos ainda mais abrangentes valores do integrativo Segundo Alinhamento. Esses valores verdes simplesmente n�o s�o inclu�dos em interpreta��es mais profundas e mais altas e mais abrangentes, mas somente se tornam um fim em si mesmos, a ponto destes valores verdes marginalizarem e rejeitarem os outros sistemas de valor".

"Como n�s vimos, o padr�o verde reivindica ser inclusivo e n�o-marginalizante, mas na realidade n�o deixar� o vermelho ser vermelho, ou que o azul seja azul, ou laranja seja laranja, ou que o amarelo sejaamarelo--em muitos casos, menospreza esses valores e lhes dir� isso sem nenhuma reserva! (A id�ia-replicadora verde fica incomodada com o controle vermelho, tem s�rias reservas aos valores conservadores azuis, insulta freq�entemente o capitalismo laranja, detesta hierarquias amarelas, recua diante dos universais turquesa, e assim por diante.) A Diretiva Principal da consci�ncia de segundo-alinhamento, por outro lado, percebe que o vermelho saud�vel deve ser permitido ser vermelho a seu pr�prio modo, o azul saud�vel deve ser permitido ser azul, o laranja deve ser laranja, o verde deve ser verde, e assim por diante--e deste modo apenas uma consci�ncia integral que atravessa o espectro inteiro de consci�ncia pode emergir e n�o privilegiar os valores de uma onda "id�ia-replicadora" indevidamente, neste caso, a ve rde."

(...) "Com 25% da popula��o americana sendo verdes (os 'criativos culturais'), e menos de 2% pertencendo ao Segundo Alinhamento, a probabilidade do Buddhismo ser capturado pela id�ia-replicadora verde realmente � muito alta. Quer dizer, a maioria dos budistas americanos s�o budistas da id�ia-replicadora verde, por simples demonstra��o demogr�fica".

"Mais uma vez, isto n�o � bom ou ruim, simplesmente �. Mas traz certas repercuss�es que eu acredito qualquer pessoa interessada no Buddhismo--ou na espiritualidade em geral--deveria estar atenta".

"Primeiramente, um Buddhismo verde-id�ia-replicadora n�o � certamente um Buddhismo turquesa ou integral, como certamente s�o os maiores textos do Mahayana e do Vajrayana. Por exemplo, pense no Avatamsaka Sutra, que provavelmente � t�o turquesa quanto a onda turquesa pode ser; o Lankavatara Sutra, um trabalho de g�nio pertencente ao Segundo Alinhamento que elucida a hierarquia aninhada da evolu��o de consci�ncia, que se estende por toda esta fase at� o Terceiro Alinhamento; os Anuttara Tantra do Vajrayana que consistem em instru��es turquesa sobre as sutis energias K�smicas hol�sticas, que conduzem � consci�ncia do Terceiro Alinhamento e ao grande Esclarecimento; os Dzogchen Upadesha, tratados espirituais que descrevem a consci�ncia � medida que esta se desdobra do primeiro ao segundo at� o terceiro alinhamento e � realiza��o da Presen�a sempre-manifesta; e at� mesmo a psicologia Abidharma do Theravada, exposi��es profundas sobre a consci�ncia do Terceiro Alinhamento. Nenhum destes Tratados s�o id�ias-replicad oras verde; eles s�o todos Tratados do segundo e terceiro alinhamentos --e, meus amigos, este fato � muito importante.

"Recordem que as ondas do Primeiro Alinhamento s�o beges, roxas, vermelhas, azuis, laranja, e verdes; o que define cada uma delas � que elas acreditam que seu sistema de valor e vis�o global s�o as �nicas vis�es que est�o fundamentalmente corretas. Por outro lado, as ondas de consci�ncia do Segundo Alinhamento ?a amarela e a turquesa--s�o ondas verdadeiramente integrais, pois incluem uma consci�ncia intuitiva de todas as ondas-id�ia-replicadoras do Primeiro Alinhamento e assim podem perceber a import�ncia de cada uma, j� que cada uma delas s�o um ingrediente necess�rio na Espiral abrangente de crescimento, al�m de perceber que tamb�m s�o hol�rquicas recorrentemente (relembrem que Beck e Cowan consideram que a aceita��o da holarquia, ou hierarquia aninhada, � uma das caracter�sticas definidoras do segundo alinhamento). E finalmente, o Terceiro Alinhamento � um termo geral para todos os estados e est�gios que s�o trans-turquesa ou verdadeiramente transpessoais, transracionais e supramentais".

Em outras palavras, os que n�s queremos s�o modelos de Segundo Alinhamento de consci�ncia que incluam a consci�ncia de primeiro -, segundo -, e terceiro-alinhamento. Quer dizer, queremos tentar usar a mente em sua capacidade mais alta de pensamento integral (amarelo e turquesa) para que possamos ter uma vis�o geral do espectro inteiro de consci�ncia, e isto inclui apontar pelo menos para os estados que s�o trans-turquesa, supramentais e transpessoais. Claro que, n�o existem modelos mentais de estados de terceiro-alinhamento porque esses mesmos estados s�o transmentais: quando voc� est� experimentando o terceiro alinhamento diretamente?como durante o nirvikalpa samadhi ou no puro estado sem forma--n�o h� nenhuma mente conceitual para criar modelos! Mas quando sairmos desses estados transmentais, ent�o claro que podemos fazer mapas e modelos mentais daqueles, com a compreens�o de que voc� tem que experimentar diretamente esses estados e est�gios de terceiro-alinhamento e n�o somente falar sobre eles! " (...).

"Portanto � isso que queremos dizer quando afirmamos desejar modelos de Segundo Alinhamento do inteiro espectro (de primeiro, segundo e terceiro alinhamentos). Bons exemplos disto incluem James Mark Baldwin, William James, Michael Murphy, Roger Walsh, Jenny Wade, Charles Tart, Joel Funk, Michael Washburn, Skip Alexander, Francisco Varela, Susann Cook-Greuter, Frances Vaughan, e assim por diante. Esperan�osamente, claro, n�s n�o ofereceremos somente modelos mentais, mas tamb�m incluiremos pr�ticas espirituais que nos permitir�o experimentar diretamente os estados e est�gios mais altos, supramentais, de terceiro-alinhamento. Mas ao menos queremos incluir um reconhecimento desses estados dentro de nosso modelo mental integral de segundo-alinhamento".

"Como dissemos, muito do terceiro alinhamento, e especialmente o elemento causal, � supramental e n�o-representacional (e portanto, quando voc� est� nesses estados do terceiro-alinhamento n�o � capaz de criar modelos mentais); por�m, uma vez que a pessoa 'sai' desses reinos, ele ou ela os interpreta nas condi��es de sua organiza��o mental. E o turquesa, mesmo sendo o mais integral dos reinos mentais evoluidos, � o melhor equipado, neste momento, para representar mentalmente de forma completa o espectro global de consci�ncia. Assim, novamente, queremos mapas turquesa das ondas do primeiro, segundo, e terceiro alinhamento (ou o espectro inteiro para a extens�o do que pode ser representado em mapas--que n�o � muito, a prop�sito, mas isso n�o significa que tais mapas n�o tenham nenhuma serventia).

"Os problemas come�am quando voc� interpreta estes eventos de terceiro-alinhamento somente sob as condi��es do Primeiro Alinhamento, o que acontece com a id�ia-replicadora verde do Buddhismo. Ou a id�ia-replicadora verde do Shamanismo, ou a id�ia-replicadora verde da Kabbalah, ou a id�ia-replicadora verde do Pluralismo, e assim por diante. Novamente, isto n�o � necessariamente ruim, mas pode ter certas conseq��ncias muito infelizes."

(...) "Porque onde quer que o verde v�, boomeritis o segue. E da mesma maneira que o boomeritis absorveu tanto da onda verde neste pa�s, assim o Buddhismo boomeritis � um das formas mais prevalecentes de Buddhismo que atualmente nos chama a aten��o. Suas doutrinas s�o as mesmas que n�s vimos e que s�o caracter�sticas do boomeritis em geral, mas agora presas � experi�ncia aut�ntica de estados meditativos de consci�ncia, que s�o interpretadas para apoiar ent�o o sistema de valores da id�ia-replicadora verde."

(...) "O resultado � um Buddhismo que reivindica ser igualit�rio, pluralista, n�o-marginalizante, anti-est�gio, e especialmente anti-hierarquia. E, ai, todos os movimentos da "perversa id�ia-replicadora verde" entram em jogo: ele reivindica ser igualit�rio, mas na verdade condena todas as vis�es que discordam disto (mas como isto � poss�vel, se todas as vis�es s�o verdadeiramente iguais?) rejeita o modelo professor-estudante, desde que sejamos todos amigos espirituais ligados ao mesmo caminho (mas por que as pessoas est�o pagando tanto dinheiro a estes professores, se somos todos iguais?) rejeita a hierarquia em qualquer natureza (mas por que classifica sua vis�o como melhor do que todas as alternativas?) reivindica que o pluralismo � a verdadeira voz do Mist�rio Divino (mas por que rejeita todas as numerosas outras vozes que discordam dele?) E �s vezes chega ao ponto de negar completamente a import�ncia da Ilumina��o, porque todas as experi�ncias espirituais devem ser vistas igualmente sem qualquer julgament o ou classifica��o hier�rquica, e afirmam que existir algo chamado 'ilumina��o' insinuaria que aqueles n�o iluminados de alguma maneira s�o inferiores, e isso n�o � uma coisa agrad�vel para dizer, e portanto n�o diremos isto. A verdadeira raison d'etre do Buddhismo--isto �, livrar do sofrimento atrav�s da Grande Libera��o da mente desperta, que permite a salva��o compassiva de todos os seres sens�veis--� jogada fora pela janela porque � politicamente incorreta."

(...) "Bem, a lista das t�ticas da "perversa id�ia-replicadora verde" � t�o legend�ria quanto extensa. O fato do Buddhismo boomeritis exibir todas essas caracter�sticas n�o � nenhuma surpresa, mas a real impostura aqui � que um Buddhismo verdadeiramente integral provavelmente nunca ir� se enraizar no Ocidente se o Buddhismo boomeritis manter o controle que certamente possui neste momento.

"O ponto � bastante simples: se voc� leu os ensaios deste semin�rio sobre "Boomeritis" que demos aqui no IC, ent�o voc� ter� um entendimento bastante claro do boomeritis--o que �, o que significa, como surgiu. Se voc� simplesmente olhar as muitas das formas de espiritualidade agora dispon�veis, inclusive o Buddhismo, ir�, eu temo, as descobrir envoltas em boomeritis. Meus colegas aqui no IC s�o de uma s� opini�o: o Buddhismo boomeritis provavelmente � a maior amea�a interna ao Dharma no Ocidente."

Tradu��o de Claudio Miklos


Buddhismo Boomeritis: Termo quase intraduz�vel criado por Ken Wilber para denotar a "doen�a" da "perversa id�ia-replicadora-verde" (Mean Green-Meme, um pensamento caracter�stico do padr�o de consci�ncia ou ONDA denominada "verde", transmitido de forma insalubre e infecciosa entre um grupo de seres humanos), "infectando" a gera��o p�s-moderna e "espalhando-se" por toda uma cultura. Ken Wilber, escritor, fil�sofo e te�rico de Psicologia Integral e autor do sistema "todos os n�veis, todos os quadrantes" de descri��o das experi�ncias conscienciais. [Buddhismo Boomeritis � o mais s�rio--e perturbador-- t�pico que uma pessoa pode imaginar. Mas, em minha opini�o, se voc� est� interessado em entender este t�pico, o �nico modo para fazer isso � ler o romance "Boomeritis" primeiro, ou ent�o o assunto central aqui realmente n�o ser� compreendido. Para esses que assim fizeram, o ensaio abaixo representa algumas reflex�es sobre o que eu acredito ser a �nica grande amea�a ao Buddhadharma no Ocidente. Um dos dois ou tr�s professores buddhistas americanos mais populares, depois de ler Boomeritis, enviou-me um e-mail e disse: "Hum, penso que tenho esta doen�a." Eu acredito que a grande flexibilidade e n�o-apego que o treinamento budista instila nas pessoas ser�o fortes o bastante para permitir que o boomeritis seja superado, mas se isso acontecer� ou n�o ainda est� para ser testemunhado.--kw]