AS SETE FACES DE KEN WILBER


Frank Visser



A obra e a pessoa de Ken Wilber apresentam muitas facetas. Eu cheguei a um total de sete, as quatro primeiras mais mentais, as tr�s �ltimas com um sabor espiritual

1) TE�RICA
O n�cleo da sua obra � um modelo te�rico dos est�gios do desenvolvimento humano. Ele n�o se desculpa por ser te�rico ou intelectual. Pelo contr�rio, compreende-se, desde o in�cio, que esta � uma atividade valiosa e significativa. Wilber dialoga com muitos campos da sociologia, psicologia do desenvolvimento, antropologia cultural, psicologia cl�nica, etc.

2) SINT�TICA
Entretanto, desde seus primeiros escritos, Wilber tenta integrar diferentes modelos te�ricos, localizando cada um deles num contexto mais amplo. O objetivo maior aqui � formular uma grande Teoria de Tudo, que cubra todos os campos da experi�ncia humana. Suas considera��es n�o s�o vulner�veis a acusa��es p�s-modernas de que Grandes Hist�rias n�o s�o mais poss�veis nos dias de hoje, porque n�o estende uma verdade parcial a propor��es absolutas, como fizeram muitos grandes te�ricos antes dele; tenta, sim, posicionar todas as diferentes verdades parciais num amplo modelo integral.

3) CR�TICA
Uma vez que nunca perde de vista o panorama geral, ele est� sempre atento a quaisquer tentativas que procurem transformar verdades parciais (ecologia, feminismo, f�sica, holismo) na �nica Verdade. Isto explica a forte linha cr�tica em todo o seu trabalho, motivada por um �nico objetivo: ver e reconhecer verdades parciais como verdades parciais, nem mais, nem menos; mas nunca confundi-las com a Verdade.

4) POL�MICA
Este �ltima faceta mental da sua obra � compreens�vel e justificada por v�rios anos de disciplinada escrita te�rica e cr�tica que n�o surtiram muito efeito na cultura e subcultura em geral, parecendo que foram varridos tanto pelo racionalismo quanto pelo regressionismo. Assim, um pouco de pol�mica pode incitar discuss�es e chamar a aten��o para as reais quest�es em pauta. Alguns cr�ticos acharam falhas nas pol�micas notas de Sex, Ecology, Spirituality. Outros realmente as apreciaram.

5) PANDIT
O trabalho intelectual de Wilber � inspirado por uma perspectiva espiritual da vida. Ele gosta de se autodescrever como um pandit moderno, defendendo a perspectiva espiritual numa cultura massivamente secularizada. Portanto, �, essencialmente, um fil�sofo religioso. Uma vez ele descreveu seu objetivo: legitimar o Esp�rito no mundo moderno. Mais do que qualquer outro fil�sofo com tend�ncias espiritualistas, Wilber tem a mente aberta para a contribui��o da ci�ncia, mas, em �ltima an�lise, n�o depende dela. No final, o Esp�rito � a �nica evid�ncia para o Esp�rito.

6. GUIA
Embora n�o queira ser considerado um guru, h� uma caminho em alguns dos seus escritos que apresenta um ensino caracter�stico ou mesmo com qualidade de guia. As instru��es indicativas das Tradi��es N�o-duais tornam-se muito �teis quando formuladas por Wilber (se comparadas com aquilo que os mestres espirituais contempor�neos s�o capazes de fazer para ensinar o Dharma).

7) M�STICA
A mais profunda das facetas espirituais de Wilber � revelada quando ele descreve suas pr�prias experi�ncias do Divino. Especialmente em One Taste, este aspecto vem para o primeiro plano. Legitimamente, n�o o ressaltou em seus outros escritos, porque deveriam sustentar-se por si mesmos. Por�m, o fato de que ele vivencia o que escreve deve servir de exemplo para muitos leitores de seus livros que divagam: o desenvolvimento espiritual parece maravilhoso, mas ser� que poder� tornar-se uma realidade na minha pr�pria vida?


(c) 1998 Frank Visser


Adaptado de: Ken Wilber: Denken als Passie [Ken Wilber: Pensamento como Paix�o], Rotterdan, Lemniscaat, 2001.

Tradu��o de Ari Raynsford