Exerto G:

Rumo a Uma Teoria Completa de Energias Sutis

Ken Wilber

Parte III. Algumas Particularidades de uma Teoria Integral de Energias Sutis

Refinamentos

Mencionei que discutir�amos as correla��es entre energias e consci�ncia de acordo com tradi��es como o Vedanta e o Vajrayana; tamb�m o complicado t�pico da reencarna��o ou transmigra��o; e uma taxonomia mais detalhada de energias sutis (envolvendo fam�lia, g�nero, esp�cie).

Comecemos pelas correla��es. Tanto o Vedanta quanto o Vajrayana apresentam um mapa muito simples mas muito poderoso, da rela��o de estados de consci�ncia, n�veis de consci�ncia, e dom�nios de corpos/energias. Acredito que este esquema seja essencialmente correto, at� mesmo quando ajustado aos termos AQAL. Resumidamente:

Conforme o Vedanta/Vajrayana, existem tr�s principais estados de consci�ncia, correlacionados a tr�s principais corpos (ou dom�nios de massa-energia), e cinco principais n�veis/estruturas de consci�ncia. Os 3 estados s�o: vig�lia, sonho e sono profundo. Os 3 corpos s�o: bruto, sutil e causal. O 5 n�veis/envolt�rios s�o os 5 koshas mencionados anteriormente (material bruto, emocional-pr�nico, mental, mental superior, supermental).

Em pessoas comuns, as rela��es s�o as seguintes: o estado de vig�lia, que possui uma consci�ncia material, � correlacionado a (e suportado por) um corpo/energia bruto. O estado de sonho - que cont�m (ou pode conter) os 3 n�veis, emocional, mental e mental-superior - � suportado por um corpo/energia sutil. E o estado de sono profundo, que cont�m uma consci�ncia supermental, � suportado por um corpo/energia causal. Vide Tabela 2. (E observe: os estados e est�gios de consci�ncia s�o QSE; os corpos/energias s�o QSD.)

O brilhantismo deste esquema � que consegue relacionar estruturas de consci�ncia, estados de consci�ncia e energias de um modo simples e elegante, um modo que, em aspectos essenciais, tem ainda que ser melhorado. Escrevi extensivamente sobre estas correla��es e por que s�o importantes para qualquer psicologia integral (vide, por exemplo, Sidebar G, "States and Stages" no site wilber.shambhala.com). Aqui, novamente, apresentarei um resumo muito breve.

Estado de Consci�ncia N�vel/Est�gio/Envolt�rio de Consci�ncia Corpo-Energia
Sono Profundo (Informe) (sushupti) 5. Anandamayakosha(esp�rito - bem-aventuran�a) Corpo Causal (karana-sarira)
Sonho (svapna-sthana) 4. Vijnanamayakosha(buddhi; mente superior)
3. Manomayakosha(manas; mente)
2. Pranamayakosha(emocional-sexual)
Corpo Sutil(suksma-sarira)
Vig�lia (jagarita-sthana) 1. Annamayakosha (sens�rio-motor) Corpo Bruto(sthula-sarira)

Tabela 2. Correla��es de Estados de Consci�ncia, Est�gios de Consci�ncia e Corpos (ou Energias)

Para come�ar, por que o Vedanta/Vajrayana afirma que o estado de vig�lia cont�m um n�vel de consci�ncia mas o estado de sonho cont�m 3 n�veis de consci�ncia? De acordo com o Vedanta/Vajrayana, o ponto que mais define o estado de vig�lia � que voc� est� consciente de corpos sens�rio-motores brutos: voc� pode ver pedras, �rvores, rios, cidades, carros, planetas, etc., todos eles objetos ou corpos sens�rio-motores brutos (conseq�entemente, o dom�nio bruto). Voc� pode estar ciente de outras coisas no estados de vig�lia, por�m se voc� pode ver pedras, voc� est� consciente do dom�nio bruto.

Entretanto, quando voc� sonha, n�o est� consciente de pedras, �rvores, rios, cidades ou quaisquer outros objetos brutos. Voc� pode, por�m, estar ciente de emo��es, imagens, id�ias, vis�es, arqu�tipos e assim por diante - em outras palavras, os 3 n�veis intermedi�rios de consci�ncia podem aparecer no estado de sonho, e isso significa que os 3 n�veis intermedi�rios de consci�ncia podem todos ser suportados pelo mesmo corpo sutil. (Obviamente, isto n�o quer dizer que este corpo-energia sutil n�o possa ser subdividido, o que � feito tanto pelo Vedanta quanto pelo Vajrayana; significa apenas que todas as formas de energia sutil s�o g�neros desta fam�lia [vide abaixo]).

No entanto, quando voc� entra no estado de sono profundo, sem sonhos, at� esses n�veis de consci�ncia e energia desaparecem, e passa a existir somente uma vasta, quase infinita, consci�ncia supermental - uma consci�ncia beat�fica-radiante e quase informe (anandamayakosha) - que � suportada por um corpo-energia causal (que o Vedanta chama de "causal" e o Vajrayana, de "muito sutil"; isto �, no Vedanta, os corpos-energias s�o chamados de bruto, sutil, e causal; no Vajrayana, eles s�o chamados de bruto, sutil, e muito sutil; eu seguirei o Vedanta, embora esteja claro que ambos referem-se, essencialmente, aos mesmos fen�menos, j� que identificam explicitamente estes estados/corpos com vig�lia, sonho e sono profundo).

Uma das muitas raz�es da import�ncia deste modelo � que nos permite compreender rela��es complicadas, e de outro modo confusas, entre estados e est�gios. � dif�cil demonstrar a profundidade da realiza��o do Vedanta/Vajrayana num resumo t�o curto, mas usarei um r�pido exemplo que poder� ajudar. De acordo com ambos, Vedanta e Vajrayana, os estados e seu corpos/dom�nios s�o dados aos seres humanos desde o nascimento (e est�o completamente presentes), mas os n�veis ou est�gios se desenvolvem (e n�o est�o todos presentes no nascimento).

Comecemos por alguns fatos incontest�veis: um beb� desperta, sonha, e dorme - em outras palavras, o beb� tem acesso aos 3 principais estados de consci�ncia. Mas o beb� n�o tem acesso a todos os principais est�gios de consci�ncia (por exemplo, o beb� n�o tem acesso � cogni��o operacional formal, que emerge ou se desenvolve durante a adolesc�ncia; nem tem acesso � moralidade p�s-convencional, nem � capacidade de racioc�nio hipot�tico, nem ao meme laranja, nem ao meme verde, e assim por diante. Os n�veis mais elevados, tais como manas e vijnana, ainda n�o emergiram).

Assim, se olharmos para o conte�do do estado de sonho do beb�, o que acharemos? O que quer que seja, n�o ser� conte�do dos est�gios mais elevados de desenvolvimento: como as pesquisas deixaram abundantemente claro, os sonhos de beb�s e crian�as pequenas n�o cont�m pensamentos operacionais formais, nem impulsos p�s-convencionais, nem vis�es turquesas, e assim por diante. O conte�do dos v�rios estados s�o fornecidos pelo(s) est�gio(s) de desenvolvimento em que a pessoa se encontra.

Deste modo, usando o esquema simples de 5 est�gios, um beb� tem acesso aos 3 grandes estados (vig�lia, sonho e sono profundo) e a seus 3 corpos-energias associados (bruto, sutil e causal); mas desenvolveu apenas o primeiro ou os dois primeiros dos 5 n�veis de consci�ncia: isto �, o material-alimento e o emocional-pr�nico. Os n�veis/est�gios mais elevados (mental, mental superior e supermental) ainda n�o emergiram. Ent�o, o conte�do real dos estados de vig�lia e sonho do beb� ser�o fornecidos por esses dois primeiros n�veis de consci�ncia.

� medida que a crian�a cresce, amadurece, se desenvolve e o n�veis/est�gios mais elevados come�am a emergir, ent�o o conte�do desses n�veis prover� a maior parte do conte�do para os v�rios estados. Quando uma pessoa alcan�a a idade adulta - e desenvolveu, por exemplo, a cogni��o operacional formal, a moralidade p�s-convencional, valores amarelos, etc. - ent�o esses conte�dos podem ser encontrados tanto no estado de vig�lia quanto no de sonho, como, novamente, as pesquisas repetidamente demonstram.

Agora, para o Vedanta e o Vajrayana, o ponto fundamental deste esquema � que, quando uma pessoa � altamente evolu�da - ou iluminada - ent�o ela desenvolveu, consciente e completamente, todos os 5 n�veis/est�gios de consci�ncia; e, portanto, pode permanentemente acessar ou Testemunhar os estados de vig�lia, sonho e sono profundo; tal testemunho � chamado de turiya (ou "o quarto," significando o quarto grande estado al�m da vig�lia, sonho e sono profundo); e, da�, unir a Testemunha inqualific�vel vazia com o mundo inteiro da Forma (uma realiza��o n�o-dual chamada de turiyatita ou sahaja: "espont�neo" e "� isso").

Este modelo nos permite ver como um beb� pode ter acesso aos 3 grandes estados e corpos de realidade bruta, realidade sutil, e realidade causal - mas n�o de um modo desenvolvido que permita assenhorear-se permanentemente desses dom�nios. A realiza��o e controle permanentes demandam desenvolvimento e evolu��o atrav�s dos n�veis/est�gios reais, um desenvolvimento que converte "estados tempor�rios" em "caracter�sticas permanentes." Todavia, conforme o Vedanta/Vajrayana, todos os est�gios/estruturas/n�veis de consci�ncia - independentemente se os definimos como 5, 7, 12 ou mais - s�o varia��es desses 3 grandes dom�nios de consci�ncia e de seus 3 corpos ou energias de suporte.

A raz�o da especial import�ncia deste modelo para energias sutis � que nos permite ver por que uma crian�a possui um campo de energia bruta, um campo de energia sutil e um campo de energia causal (porque ela desperta, sonha, e dorme), mas N�O possui os campos de energia de esp�cies e subesp�cies que acompanham os est�gios/n�veis espec�ficos de consci�ncia, a menos que realmente desenvolva esses est�gios. Por exemplo, uma crian�a, como um adulto, possui os campos de energia das fam�lias bruta, sutil e causal, mas n�o os subcampos de g�nero como T-1, T-2, etc. - exatamente do mesmo modo que a crian�a possui o mesmo estado geral de sonho de um adulto, mas ainda n�o possui, neste estado de sonho, quaisquer pensamentos dos est�gios azul, laranja, amarelo, etc.

Perdoe-me ser repetitivo, mas o impressionante brilhantismo deste esquema me deixa simplesmente perplexo. N�o existe nenhum outro modelo que, remotamente, se aproxime de suas capacidades explanat�rias, e eu incorporei esses aspectos, virtualmente inalterados, em meu pr�prio modelo de Psicologia Integral. Desnecess�rio dizer, a pesquisa moderna nos permite detalhar enormemente este esquema b�sico - no momento reconhecemos pelo menos 12 (ou mais) importantes n�veis/est�gios de consci�ncia, que existem em pelo menos duas dezenas de linhas de desenvolvimento diferentes, nenhuma das quais � coberta pelo modelo do Vedanta/Vajrayana. Mas os extraordin�rios e revolucion�rios insights est�o contidos em suas descobertas pioneiras.

Uma Taxonomia Refinada de Energias Sutis

Vamos usar o esquema comum de "fam�lia, g�nero, esp�cie", combinado com a terminologia da Tabela 1, para resumir nossas conclus�es (sugeridas).

As tr�s grandes fam�lias de energia s�o: bruta, sutil e causal. (Quando necess�rio, podemos adicionar a fam�lia turiya e a fam�lia turiyatita.)

1. A fam�lia energia-bruta cont�m os g�neros: gravitacional, eletromagn�tico, nuclear forte e nuclear fraco.
A. O g�nero eletromagn�tico cont�m: esp�cie (1) raios c�smicos, (2) raios de gama, (3) raios-x, (4) luz vis�vel, (5)infravermelho, (6) microondas, etc.
B. O g�nero nuclear forte cont�m: energias de esp�cies de (1) b�rions, (2) h�drons, (3) m�sons (etc.)
C. e D. (Do mesmo modo para qualquer esp�cie poss�vel no g�nero gravitacional e no g�nero nuclear fraco).
2. A fam�lia energia sutil cont�m os g�neros: et�rico (L-1, biocampo-1), astral (L-2, biocampo-2), ps�quico-1 (T-1), e ps�quico-2 (T-2)
A. O g�nero et�rico ( L-1 ou biocampo-1) cont�m:
energias de esp�cies: (1) viral, (2) procariote, (3) neuronial, (4) cord�o neuronial (etc.)
B. O g�nero astral (L-2 ou biocampo-2) cont�m:
energias de esp�cies: (1) haste cerebral reptiliana, (2) sistema l�mbico (etc.)
C. O g�nero ps�quico-1 (ou T-1) cont�m:
energias de esp�cies: (1) vermelha, (2) azul, (3) laranja, (4) verde (etc.) [2]
D. O g�nero ps�quico-2 (ou T-2) cont�m:
energias de esp�cies: (1) amarela, (2) turquesa, (3) coral (etc.)
A fam�lia energia causal: cont�m o g�nero campo-C (etc.)
A. O g�nero campo-C cont�m:
esp�cie nirvikalpa, jnana (etc.) [3]

Enfatizo novamente que tudo isto � uma quest�o de conven��o e sem�ntica (inclusive o n�mero de n�veis que podemos razoavelmente postular). Esta taxonomia � simplesmente uma s�rie de sugest�es sobre o que eu acredito ser o requisito m�nimo para levar adiante uma teoria integral.

Qualquer bom modelo abre linhas adicionais de pesquisa, e o modelo integral ou AQAL n�o � exce��o. Venho desenvolvendo muitos destes programas de trabalho de pesquisas junto com Bob Richards, co-fundador da Clarus, Inc. e um dos vice-presidentes do Integral Institute. Ficar�amos contentes em discutir estes assuntos com partes interessadas.

Reencarna��o

Vamos agora para o t�pico mais controverso relacionado a energias sutis, ou seja, reencarna��o ou transmigra��o. Reluto at� em coment�-lo, porque uma vez que toma partido neste assunto, voc� aliena a outra metade do p�blico.

Minha pr�pria convic��o � que existe reencarna��o; por�m, para o momento, estou mais preocupado em sugerir um mecanismo para tal ocorr�ncia, em lugar de discutir se ela acontece ou n�o. Vamos simplesmente assumir que aconte�a e, ent�o, perguntar como esta ocorr�ncia pode ser enquadrada na hip�tese n� 3, isto �, que energias sutis est�o associadas a complexifica��es da forma bruta. Com a morte, claramente a forma bruta se dissolve; o que acontece com as energias sutis se estiverem ligadas a essa formas bruta?

Neste ponto, simplesmente decidimos se a reencarna��o existe ou n�o. Se voc� acreditar que a reencarna��o n�o existe, ent�o a teoria integral de energias sutis que eu apresentei at� agora n�o necessita de nenhum ajuste adicional (isto �, n�o em rela��o � reencarna��o). Se, por outro lado, voc� cr� na reencarna��o, ent�o uma teoria integral precisa estar apta a incorporar esta ocorr�ncia. Podemos faz�-lo se adicionarmos a seguinte hip�tese:

#4. Complexity of gross form is necessary for the expression or manifestation of both higher consciousness and subtler energy.

A hip�tese n� 4 introduz a possibilidade de que as formas mais elevadas de consci�ncia e energia (isto �, mais elevadas que o dom�nio da fam�lia-bruta) n�o sejam vinculadas ontologicamente a complexifica��es da forma bruta, mas sim que sejam ve�culos da express�o das formas e energias mais sutis no pr�prio dom�nio bruto. Em outras palavras, n�o � que a consci�ncia e as energias mais elevadas estejam ligadas �s complexidades da forma bruta por necessidade ontol�gica, mas sim que elas precisam de uma forma correspondentemente complexa da mat�ria bruta a fim de expressar-se ou manifestar-se no reino material.

Se isto � verdade ou n�o � uma coisa; mas se for verdade, algo como a hip�tese n� 4 deve ser aventado. Evitar esta hip�tese � evitar o assunto todo. Por exemplo, Francisco Varela et al., em The Embodied Mind (A Mente Encarnada), tenta derivar uma teoria espiritualmente afinada da consci�ncia ancorando-a firmemente no corpo sens�rio-motor - por esta teoria a reencarna��o � imposs�vel. Eles apresentam sua teoria como estando em conson�ncia com um Budismo atualizado, mas evitam claramente tratar deste dif�cil assunto. Para se aventar a transmigra��o, n�o existe outra maneira a n�o ser com algo como a hip�tese n� 4.

Com a hip�tese n� 4, a teoria integral, pelo menos neste ponto particular, reverteria para algo mais pr�ximo da concep��o do Vedanta/Vajrayana tradicional, mas com algumas exce��es importantes (que eliminam a maior parte dos postulados metaf�sicos necess�rios para sustentar o esquema, ao mesmo tempo em que aceitam os dados relevantes a serem explicados). 4 Tudo que precisamos observar s�o exatamente os pontos essenciais do modelo do Vedanta/Vajrayana, j� incorporados na Psicologia Integral, que podem ser ajustados � hip�tese n� 4 para criar uma explica��o poss�vel da reencarna��o. N�o existe nenhuma d�vida que isto aumenta a bagagem metaf�sica de qualquer abordagem, mas pode ser feito de modo relativamente modesto que, al�m de tudo, est� aberto a um razo�vel n�meros de testes emp�ricos e fenomenol�gicos (que s�o o ant�doto para a metaf�sica).

Os pontos essenciais do modelo do Vedanta/Vajrayana, no que diz respeito � reencarna��o, s�o os seguintes. � verdade que n�o existe mente sem seu corpo de suporte, e nem corpo sem sua mente diretora (onde "mente" significa "consci�ncia" e "corpo" significa "massa-energia"; em termos AQAL, todo estado/est�gio de consci�ncia no QSE tem um corpo-massa-energia correspondente no QSD). Em termos simples, para o Vedanta e o Vajrayana, a mente bruta tem um corpo bruto; a mente sutil tem um corpo sutil; e a mente causal tem um corpo causal. Na verdade, podemos simplesmente referir-nos a eles como o corpo-mente bruto, o corpo-mente sutil e o corpo-mente causal.

De acordo com a Vedanta/Vajrayana, embora nunca exista uma mente sem um corpo, o corpo-mente sutil pode existir sem o corpo-mente bruto, e o corpo-mente causal pode existir sem qualquer um dos outros. Conseq�entemente, embora nunca exista uma mente sem um corpo, a transmigra��o pode acontecer.

De acordo com as tradi��es, h� v�rias maneiras para esta afirma��o ser verdadeira. Primeira, ontologicamente, durante a involu��o - que tamb�m �, essencialmente, o caminho que parece acontecer no dom�nio do bardo da entidade reencarnante ou transmigrante (vide abaixo) - quando o Esp�rito se manifesta, inicialmente, criando um corpo-mente causal. Obviamente, um corpo-mente causal sem um corpo-mente sutil e um corpo-mente bruto, j� que nenhum deles ainda foi criado.

Segunda, fenomenologicamente, quando voc� vai dormir toda noite e come�a a sonhar, o corpo-mente bruto n�o existe e voc� reside basicamente num corpo-mente sutil; igualmente, quando voc� passa o sono informe-sem sonhos, n�o existem corpos-mentes bruto ou sutil, s� um corpo-mente causal; portanto, fenomenologicamente, os corpos-mentes seniores podem existir independentemente dos corpos-mentes juniores.

Terceira, em certos estados incomuns de vig�lia - tais como experi�ncias-fora-do-corpo (ou "viagens astrais") - existimos num corpo-mente sutil, n�o meramente num corpo-mente bruto. E em estados meditativos informes, existimos num corpo-mente causal, n�o em corpos-mentes sutil ou bruto.

Assim, as tradi��es afirmam que, ap�s a morte f�sica, quando o corpo-mente bruto se dissolve, a alma, existindo agora em seu estado sutil e verdadeiramente suportada ou transportada por uma energia sutil muito real (ou corpo sutil), transmigra por uma s�rie de reinos ou esta��es do bardo, at� que v�rios fatores c�rmicos a induzam a assumir um novo corpo-mente bruto, quando, ent�o, acontece o renascimento num corpo f�sico.

Deste modo, o corpo/energia global sutil (isto �, a fam�lia energia-sutil) parece suportar v�rias mentes ou estados e est�gios de consci�ncia, incluindo: (1) o estado de sonho em todos os seres humanos; (2) estados meditativos com forma (por exemplo, savikalpa samadhi); (3) v�rios estados incomuns (por exemplo, experi�ncias-fora-do-corpo, experi�ncias-de-quase-morte); (4) e os reinos de transmigra��o do bardo.

Da� por que, por exemplo, se, durante a vida, pratica-se medita��o e aprende-se a entrar no estado de sonho com consci�ncia (sonho l�cido), diz-se que se pode ent�o controlar at� certo ponto o rumo real do renascimento durante o bardo, porque ao dominar-se, um domina-se o outro: eles s�o essencialmente os mesmos reinos.

Assim, a hip�tese n� 4 sugere que uma consci�ncia sutil, suportada por uma muito real mas sutil massa-energia, n�o depende para sua exist�ncia essencial do dom�nio bruto, embora necessite de um grau espec�fico de complexifica��o de massa-energia bruta para manifestar-se no reino bruto. Se a hip�tese n� 4 for verdadeira, ent�o nos permite afirmar que estas dimens�es mais sutis, embora criadas e existindo em potencial durante a involu��o, n�o podem manifestar-se de fato at� que a evolu��o no reino bruto alcance um grau necess�rio de complexifica��o. Ve�culos crescentemente complexos s�o necess�rios para dom�nios crescentemente mais elevados; quando estes reinos mais altos se manifestam, n�o est�o desvinculados da complexifica��o da forma, mas brilham atrav�s delas e em virtude delas: novamente, mesmo com a hip�tese n� 4, dir�amos que os dom�nios mais elevados n�o est�o realmente acima da mat�ria , mas no interior da mat�ria. A diferen�a com a hip�tese n� 4 � que ela adiciona: os dom�nios mais elevados, quando se manifestam, o fazem atrav�s da mat�ria, mas podem existir essencialmente sem a mat�ria da fam�lia-bruta.

Deste modo, energias et�ricas n�o podem manifestar-se at� que a mat�ria bruta assuma a forma complexa de uma c�lula viva (um quark n�o � suficientemente complexo para "conter" ou canalizar energias et�ricas, ps�quicas ou causais). � medida que a forma bruta continua a complexificar-se - impulsionadas pelo fato de que at� as pedras clamam para chegar a Deus - ent�o dimens�es crescentemente mais sutis, tanto de energia quanto de consci�ncia, podem brilhar atrav�s delas, at� que o Kosmos inteiro brilhe com o esplendor do Esp�rito que � sua Origem e Q�ididade.

Conseq�entemente, um corpo-mente sutil pode migrar de uma manifesta��o corpo-mente bruta para outra manifesta��o corpo-mente bruta, da mesma maneira que o calor pode passar de um objeto material para outro; mas � necess�ria a manifesta��o de um corpo-mente bruto complexo; adicionalmente, qualquer realiza��o espiritual verdadeiramente integral exigiria a ilumina��o do corpo-mente bruto, do corpo-mente sutil e do corpo-mente causal - da�, certamente, por que as tradi��es afirmam que somente seres humanos (e n�o anjos, nem deuses, nem semideuses) podem realizar a ilumina��o. S� os seres humanos possuem todos os tr�s corpos.

O fato que o corpo-mente sutil (e o causal) pode transmigrar para um corpo-mente bruto � realmente metaf�sico; mas o fato de que estas energias sutis s�o postuladas como reais, concretas, detect�veis, freq�entemente mensur�veis - embora energias mais sutis - evita que a concep��o inteira fique girando em torno de vapores de metaf�sica pura. Se voc� ler a hip�tese n� 4 junto com as primeiras tr�s hip�teses, penso que ver� que elas s�o, pelo menos, consistentes umas com as outras; deste modo, creio que uma teoria integral de energias sutis possa acomodar a exist�ncia da transmigra��o, se decidirmos, por outras evid�ncias, que existem provas suficientes para concluir que a transmigra��o acontece.

Os Chacras

Na minha opini�o, o teste fundamental de qualquer teoria de energias sutis � se ela consegue explicar adequadamente os chacras. O sistema de chacras �, simultaneamente, graciosamente simples e impressionantemente complexo, mas seus fundamentos precisam ser completamente considerados por qualquer teoria de energias sutis.

Permitam-me come�ar sugerindo uma elucida��o usando a figura 10. Nela podemos observar a rela��o das tr�s grande fam�lias de energias que comp�em o ser humano. Como vimos, mesmo na inf�ncia, um ser humano desperta, sonha e dorme; portanto at� uma crian�a tem acesso aos dom�nios bruto, sutil e causal (embora os conte�dos espec�ficos desses dom�nios sejam fornecidos pelos est�gios de desenvolvimento).

Figure 10. The 3 Major Family Energies Present in a Human From Inception

Isto � indicado na figura. Como estas tr�s fam�lias de energias somente emergiram, ou manifestaram-se juntas durante o curso da evolu��o, quando do surgimento do ser humano, ent�o elas s�o intr�nsecas ao h�lon humano. Isto �, a fam�lia de energias brutas surgiu com o Big Bang; a fam�lia de energias sutis, com as c�lulas vivas; e a fam�lia de energias causais, com os c�rebros trinos. J� que cada est�gio transcende-e-inclui seus predecessores, todas as tr�s fam�lias de energias acompanham um corpo humano (que �, de fato, uma conjun��o de tr�s corpos).

Assim, at� um beb� apresenta os estados de vig�lia, sonho e sono profundo, bem como suas correspondentes fam�lias de energias brutas, sutis, e causais - embora, novamente, o conte�do desses estados de consci�ncia sejam fornecidos por est�gios de desenvolvimento, e o g�nero e esp�cie de energias sutis e causais sejam igualmente fornecidos pelos est�gios espec�ficos de desenvolvimento (por exemplo, somente quando o ser humano desenvolve pensamentos concreto-operacionais e formal-operacionais os campos T-1 come�am surgir, etc.).

Isto significa que, se as grandes tradi��es estivessem realmente ligadas a estas realidades, elas manteriam que os chacras representam ou cont�m os tr�s grandes corpos-mentes (porque todos os tr�s estados/corpos est�o presentes desde a inf�ncia) E os v�rios est�gios de desenvolvimento da consci�ncia. Em outras palavras, cada chacra cont�m energias brutas/sutis/causais E cada chacra � um est�gio de desenvolvimento ou evolu��o da consci�ncia.

Desnecess�rio dizer que isto � exatamente o que encontramos. H� dezenas, talvez centenas, de varia��es no sistema de chacras encontrado nas diferentes tradi��es. Novamente darei um tratamento extremamente abreviado e simplesmente apresentarei um exemplo: o resumo global de chacras elaborado por Hiroshi Motoyama. (Nas cita��es seguintes, substitu� "astral" por "sutil," um mero detalhe sem�ntico para ser consistente com os termos que temos usado; o significado n�o se altera.)

Por um lado, os chacras s�o realmente est�gios de desdobramento evolucion�rio: "Durante o crescimento espiritual, uma pessoa deve ascender a escada evolucion�ria por estas dimens�es, passo a passo, gradualmente aumentando sua consci�ncia dos dom�nios mais elevados." [5]

Agora a parte mais dif�cil. Cada chacra tamb�m deve conter energias brutas, sutis e causais, e seus estados de consci�ncia correspondentes (porque mesmo no est�gio mais baixo de desenvolvimento - o primeiro chacra - um beb� desperta, sonha e dorme, e possui um corpo bruto, sutil, e causal). Em outras palavras, al�m de ser um est�gio espec�fico de desenvolvimento, cada um do 7 chacras deve conter tr�s corpos/energias e tr�s mentes/estados. Motoyama: "Os chacras s�o os centros dos sistemas de energia do corpo, que existem em cada uma das tr�s diferentes dimens�es: bruta, sutil e causal." Isto �, cada chacra possui estas tr�s dimens�es, da� por que cada chacra atua como um intermedi�rio entre as energias brutas, sutis, e causais que circulam no chacra: "Os chacras atuam como intermedi�rios entre as tr�s dimens�es [bruta, sutil, causal] e podem converter a energia de uma dimens�o na de outra."

Cada uma dessas 3 dimens�es de energia/corpo, em cada chacra, tamb�m tem sua mente correspondente (isto �, uma vers�o dos estados de vig�lia, sonho e sono profundo, correlacionados com energias brutas, sutis e causais, de forma que cada um dos 7 chacras cont�m corpo-mente bruto, corpo-mente sutil e corpo-mente causal). Assim, cada chacra atua como o intermedi�rio n�o s� entre os 3 diferentes tipos (ou fam�lias) de corpos/energias presentes em cada chacra, como tamb�m entre as 3 mentes (ou 3 grandes estados de consci�ncia) e seu 3 correspondentes corpos/energias em cada chacra. Deste modo, os "chacras tamb�m s�o intermedi�rios entre o corpo f�sico [bruto] e a consci�ncia [bruta], entre o corpo sutil e os manas [sutis], e entre o corpo causal e karana [causal], isto �, entre o corpo e a mente de cada dimens�o" (isto �, entre a consci�ncia/estado e o corpo/energia dos 3 grandes dom�nios presentes em cada chacra).

Ao mesmo tempo, � medida que ocorre o desenvolvimento ou evolu��o, os 7 chacras podem ser despertados e conscientizados, quando ent�o funcionam como est�gios reais (ou "passos", como Motoyama os chama) da evolu��o. A vis�o global dos chacras � bastante sofisticada, e exatamente como nos "pontos essenciais" do modelo de 3 estados, 3 corpos, e 5 n�veis do Vedanta/Vajrayana, o sistema de chacras cobre virtualmente todas as bases importantes. Na realidade, � simplesmente uma vers�o ligeiramente expandida deste modelo, com 7 n�veis em vez de 5.

Mas a perspectiva global � consistente: os 7 chacras s�o 7 n�veis/est�gios de desenvolvimento ou evolu��o. Cada um desses n�veis existe em tr�s grandes dimens�es: bruta, sutil e causal. Na dimens�o bruta, os chacras s�o associados a �rg�os e sistemas do corpo, como os �rg�os genitais, o plexo solar, o cora��o, a laringe e a gl�ndula pituit�ria. Nas dimens�es sutis, os chacras aparecem como s�o mais freq�entemente representados, isto � como centros sutis de energia e consci�ncia alinhados ao longo da coluna (com meridianos secund�rios como apresentados, por exemplo, na acupuntura). Na dimens�o causal, os 7 est�gios s�o t�o sutis e t�o et�reos que come�am a perder defini��o, mas ainda est�o presentes como a ess�ncia causal e suportam todos os n�veis e dimens�es juniores - o que o Vajrayana chama de "os chacras verdadeiramente sutis".

Isto significa que cada um dos 7 chacras tem uma dimens�o de energia bruta, sutil e causal. Como Motoyama assinala, cada chacra atua como uma esta��o transformadora entre essas 3 energias � medida que aparecem no respectivo chacra (por exemplo, o chacra da garganta pode converter energia bruta do alimento em energia sutil, ou pode converter energia causal em energia sutil, e assim por diante). Al�m disso, cada chacra medeia a energia/corpo com a consci�ncia/mente (por exemplo, o chacra da garganta medeia as energias brutas, sutis, e causais com os estados de vig�lia, sonho e sono profundo naquele n�vel). Em outras palavras, cada chacra cont�m, em seu n�vel, o corpo-mente da fam�lia-bruta, o corpo-mente da fam�lia-sutil e o corpo-mente da fam�lia-causal; e medeia essas 3 energias umas com as outras E as v�rias energias com suas mentes correspondentes.

Finalmente, cada chacra tamb�m representa um est�gio de desenvolvimento ou evolu��o (os chacras s�o uma varia��o da Grande Cadeia: da mat�ria para o corpo, para a mente, para a alma, para o esp�rito); conseq�entemente, cada chacra � uma esta��o transformadora que medeia os grandes estados de consci�ncia (vig�lia, sonho e sono profundo, os quais est�o presentes desde a inf�ncia e presentes em todos os chacras) e o conte�do real, caracter�sticas, g�nero e esp�cie da energia e da consci�ncia, � medida que a evolu��o ou desenvolvimento acontece atrav�s desses 7 grandes est�gios ou n�veis. Os g�neros e esp�cies da consci�ncia e da energia n�o est�o completamente presentes ou manifestos na inf�ncia e, conseq�entemente, o desenvolvimento � o aparecimento e matura��o de 7 n�veis de consci�ncia e de suas 7 assinaturas de energia ou corpos correlatos (ou impress�es digitais de energia de g�nero e esp�cie em cada um dos 7 chacras). Para os interessados, apresento alguns destes detalhes numa nota explicativa. [6]

Tradu��o de Ari Raynsford