Exerpto G:

Rumo a Uma Teoria Completa de Energias Sutis

Ken Wilber

Parte II. Uma Teoria Integral de Energias Sutis

O Espectro de Energias Sutis

Como sempre, primeiramente vamos nos familiarizar com as tradi��es de sabedoria, e depois ver como seus profundos insights podem ser atualizados com AQAL.

A id�ia que, al�m de um espectro de consci�ncia, existe um espectro de energia � comum em muitas tradi��es. Um tal espectro vai da energia f�sica bruta, para a energia et�rica, para a energia astral, para a energia ps�quica, para a energia causal. Neste momento, sem discutir os detalhes, simplesmente aceitemos que exista um tal tipo de espectro de energia sutil.

De maneira geral (que refinaremos � medida que prosseguirmos), estes 5 n�veis de energia s�o essencialmente correlacionados com os 5 n�veis de consci�ncia (por exemplo, como apresentado na fig. 1). De acordo com as tradi��es, estas energias n�o s�o a mesma coisa que a consci�ncia; a consci�ncia n�o pode ser reduzida a estas energias; nem elas podem ser reduzidas � consci�ncia. Estes n�veis de energia acompanham e suportam seus correspondentes n�veis de consci�ncia (de forma que uma energia bruta � o suporte da consci�ncia bruta, uma energia sutil � o suporte da consci�ncia sutil, uma energia causal � o suporte da consci�ncia causal, e assim por diante).

Pode-se representar o espectro de energia tal como na figura 1 (energia f�sica, energia vital, energia mental, energia an�mica). Todos os n�veis, tanto de consci�ncia quanto de energia, superiores ao n�vel mais baixo (ou "mat�ria") eram completamente transmateriais (metaf�sicos, sobrenaturais). Afirmava-se que estas energias formavam esferas conc�ntricas de expans�o crescente, mas eram em si mesmas, essencialmente, n�o-material-brutas (ou, ontologicamente, preexistentes e separ�veis da mat�ria).

Os pontos essenciais dessa formula��o ainda podem ser verdadeiros, e s�o verdadeiros, eu creio. Mas com a comprrens�o do enfoque naturalista da matriz AQAL, podemos reconhecer que muitos dos itens que as tradi��es pr�-modernas acreditavam ser completamente transmateriais ou metaf�sicos s�o, na verdade, relacionados com a complexifica��o da mat�ria, n�o uma mera transcend�ncia da mat�ria.

Sugerimos que esta naturaliza��o de ocasi�es metaf�sicas apresente tr�s importantes componentes: a complexidade da forma bruta (no QSD) est� relacionada com um grau crescente da consci�ncia (no QSE), e com uma sutiliza��o de energias correspondentes no pr�prio QSD. Podemos representar isto, grosseiramente, como na figura 7.

Nesta figura, vemos que os campos de energia que se pensava estar pairando metafisicamente al�m da mat�ria, na realidade emergem em correla��o �ntima com a complexifica��o da mat�ria. Estes campos sutis n�o podem ser reduzidos � mat�ria, mas nem tampouco s�o ontologicamente desconectados da mat�ria. O fantasma desconectado da m�quina est�, de fato, intimamente relacionado ao grau de complexidade da m�quina. Cada mente tem seu corpo. Mente mais sutil e sofisticada significa, simplesmente, corpo mais sutil e sofisticado. Como veremos em breve, as tradi��es (particularmente o Vedanta e o Vajrayana) tiveram um compreens�o muito profunda da rela��o entre consci�ncia bruta, sutil, e causal com corpos brutos, sutis, e causais - mas eles n�o captaram completamente a hip�tese conectiva n� 3 (isto �, a rela��o de tudo isso com as complexifica��es da mat�ria bruta).

O elo perdido de liga��o � sugerido na figura 7. Nesta figura, simplesmente assumimos a exist�ncia do espectro de energia como dado pelas tradi��es (f�sica, et�rica, astral, ps�quica, etc.), e ent�o fizemos algo que as tradi��es n�o puderam fazer: aproveitamo-nos da ci�ncia moderna e correlacionamos o aparecimento desses campos sutis com o registro evolucion�rio; em seguida, rastreamos a correla��o de energias sutis com as complexidades da mat�ria bruta. Eis aqui uma breve elabora��o do que descobrimos (como resumida na figura 7):

Figura 7. Complexifica��o da forma bruta � acompanhada por energias mais sutis.

As formas primitivas da evolu��o - como quarks, el�trons, pr�tons, �tomos e mol�culas - s�o acompanhadas pelas quatro for�as-energias fundamentais da mat�ria bruta: eletromagn�tica, gravitacional, nuclear forte e nuclear fraca. � comum referir-se a elas como energias "f�sicas" ou energias "brutas", e isto est� correto, desde que nos lembremos que estas energias "f�sicas" ou "materiais" n�o s�o a totalidade da mat�ria-energia, mas simplesmente os n�veis mais baixos da mat�ria-energia (isto �, os n�veis inferiores de massa-energia no quadrante superior direito). Genericamente falando, energias brutas cercam seus corpos materiais associados em v�rios tipos de campos; a energia em si, em sua forma t�pica, propaga-se como um evento part�cula/onda.

Com o aparecimento, durante a evolu��o, das formas materiais complexas que chamamos de "vida" (come�ando com v�rus e procariotes), uma energia mais sutil - freq�entemente chamada de "et�rica" - emerge. Como indicado, estes campos de energia et�rica circundam os campos de energia f�sica de uma maneira hol�nica (isto �, como esferas de expans�o crescente).

Nota: na metateoria AQAL, o Kosmos manifesto � composto de h�lons em v�rias perspectivas. Um h�lon � um todo/parte - ou uma totalidade que �, simultaneamente, parte de outras totalidades - por exemplo, um �tomo � parte de uma mol�cula, que � parte de uma c�lula, que � parte de um organismo, etc. H�lons individuais, indefinidamente para baixo - �tomos, quarks, f�rmions - possuem uma centelha de sensibilidade ou preens�o, de forma que todos os h�lons individuais s�o seres sencientes. Todos os h�lons individuais tamb�m s�o o que Whitehead chamou de "individualidades compostas" ou individualidades formadas por individualidades juniores: uma c�lula � uma individualidade composta formada por mol�culas, que s�o individualidades compostas formadas por �tomos, que s�o individualidades compostas....

Quando uma ocorr�ncia (ou h�lon) � olhada sob o enfoque de primeira-pessoa (como um "eu" ou ser senciente), deparamo-nos com os tipos de fen�menos listados no quadrante superior esquerdo (como preens�o, sensa��es, impulsos, conscientiza��o, consci�ncia, etc.) Quando este mesmo h�lon � observado de um modo objetivo de terceira-pessoa (como um "isso"), encontramos os tipos de fen�menos listados no quadrante superior direito (como massa do h�lon, forma e energia m�rfica, as quais podem ser descritas em termos de terceira-pessoa ou "isso", diferentemente do QSE, que s� pode descrito em termos de "eu"). No momento, estamos rastreando a evolu��o de h�lons olhando para suas formas exteriores de mat�ria e energia (isto �, eventos no quadrante superior direito), � medida que emergiram no curso da evolu��o.

Os est�gios gerais desta emerg�ncia evolucion�ria, no que diz respeito a suas formas no QSD, s�o sugeridos na figura 7 . Quando um h�lon � observado sob uma perspectiva objetiva ou de terceira-pessoa, verificamos que corpos materiais - como �tomos, mol�culas, c�lulas - s�o cercados por campos de energia que est�o, de acordo com a hip�tese n� 3, relacionados a graus crescentes de complexidade da forma material bruta. Cada um destes campos de energia - f�sico, astral, et�rico, etc. - envolvem e envelopam seus campos juniores da mesma maneira que suas formas materiais associadas envolvem e envelopam suas formas juniores (por exemplo, uma c�lula envolve mol�culas, que envolvem �tomos, etc.). Deste modo, os indiv�duos compostos e seus campos de energia associados s�o ambos "hol�nicos". Retornaremos a estes pontos ao longo da exposi��o.

� medida que a evolu��o continua a produzir um complexifica��o da forma bruta, tipos de vida emergem e come�am a interpretar est�mulos ambientais de modos muito sofisticados, usando sistemas de �rg�os como uma rede neural e uma haste cerebral reptiliana. Com a emerg�ncia de uma haste cerebral e de um sistema l�mbico paleomam�fero, uma energia ainda mais sutil - chamada de "astral" - tamb�m come�a a emergir. "Astral" pode significar muitas coisas, mas, em especial, significa um campo poderoso de energia emocional - mais sutil que a f�sica e a et�rica - que permeia o organismo vivo (por exemplo, fluindo pelos meridianos da acupuntura) e tamb�m se estende al�m, envolvendo os campos f�sico e et�rico numa expans�o hol�nica. (Veremos estes campos de energia hol�nica quando chegarmos ao diagrama de Burr, abaixo.)

Mas, novamente, estes campos de energia n�o s�o radicalmente metaf�sicos, porque se fossem, ent�o todos eles (j� que n�o se limitariam a objetos f�sicos), poderiam e estariam envolvendo todos os objetos f�sicos, quando, o que de fato acontece, e que esses campos s� emergem (e envolvem) objetos materiais de um grau correspondente de complexidade. Uma pedra n�o tem um campo emocional; um verme n�o tem um campo mental, e assim por diante. A revolu��o moderna (ou naturalista) nos permite ancorar estes campos na natureza, sem reduzi-los � natureza. Uma hist�ria natural destes campos de energia mostra que eles emergem em correla��o com o grau de complexidade da forma bruta, e juntos (a forma e sua energia correspondente) s�o as correla��es do QSD (ou os exteriores observ�veis) dos graus crescentes de consci�ncia do QSE. As formas e energias podem ser vistos sob a perspectiva de terceira-pessoa (elas s�o os componentes "isso", ou os componentes objetivos de todas as unidades m�rficas, ou h�lons, vistos do exterior); a consci�ncia s� pode ser conhecida sob o enfoque de primeira-pessoa (como o "eu" de h�lons vistos de dentro).

Continuando a hist�ria natural de energias sutis: a partir do ponto onde a evolu��o da forma bruta crescentemente complexa produz um c�rebro trino, uma energia ainda mais sutil - conhecida como "ps�quica" - emerge. "Ps�quico", neste caso, significa simplesmente "campos de pensamento", que s�o produzidos por atividade mental sustentada. Estes campos envolvem e envelopam o f�sico, o et�rico e o astral - mas eles S� emergem em, atrav�s de e ao redor de formas suficientemente complexas que incluem c�rebros trinos.

O ponto importante � que todos estes campos - f�sico, et�rico, astral, ps�quico - s�o uma parte inerente dos h�lons correspondentes no quadrante superior direito. Isto �, o exterior de um ser individual senciente (�tomos a formigas, a macacos) consiste de uma forma m�rfica individual e de seus campos de energia relacionados. J� que todo h�lon �, na realidade, um h�lon composto, ele cont�m em sua estrutura os sub-h�lons pr�vios, que, por sua vez, possuem sua pr�pria preens�o interior (QSE) e forma e campo de energia exteriores (QSD), todos continuando sua pr�pria exist�ncia relativamente independentes, mas agora envolvidos e inclu�dos no abra�o do h�lon superior, do qual s�o subcomponentes - h�lons dentro de h�lons, campos dentro de campos, energias dentro de energias, indefinidamente.

Da� por que a consci�ncia, formas e campos de energia s�o hol�rquicos. Todos s�o hierarquias nidiformes de transcend�ncia e inclus�o. Nos dom�nios exteriores, que s�o marcados por sua extens�o no espa�o-tempo, voc� realmente pode observar muitas dessas holarquias: no QSD, c�lulas fisicamente envolvem mol�culas, que fisicamente envolvem �tomos. Igualmente, no QSD, o campo de energia ps�quica envolve e envelopa (transcende e inclui) o campo astral, que envolve e envelopa o et�rico, que envolve e envelopa o f�sico....

Harold Saxon Burr, fisiologista de Yale, que foi um dos primeiros grandes pioneiros na pesquisa cient�fica (ou de terceira-pessoa) de campos de energia, usava freq�entemente um diagrama como o da figura 8, que representa os campos de energia detectados experimentalmente.

Figure 8. Burr Diagram of Energy Fields.

Enfatizo que este � um diagrama altamente esquem�tico, simplesmente para mostrar o que est� envolvido. Ele inclui um "campo-P," ou quaisquer energias f�sicas brutas associadas a este corpo; como tamb�m um "campo-L" (ou "campo vital") e um "campo-T" (ou "campo de pensamento"). Notem a caracter�stica hol�nica. Claro, nenhum destes campos de energia � meramente local, ou limitado a um espa�o f�sico localizado. Os aspectos locais destes campos de energia - representados pelos inv�lucros no diagrama - s�o simplesmente as �reas de maior densidade dos campos (ou, alternativamente, as �reas com maior probabilidade de se encontrar a energia caracter�stica). Mas muitos destes aspectos locais podem ser fisicamente detectados, de fato, com v�rios instrumentos (por exemplo, Burr, Motoyama, Tiller). Paranormais altamente conhecidos e respeitados (por exemplo, Michal Levin) freq�entemente percebem estes envolt�rios de energia essencialmente do mesmo modo como Burr os descreveu - campos dentro de campos, dentro de campos. Isto n�o significa que eles n�o apare�am de outros maneiras, somente que o diagrama de Burr capta alguns aspectos t�picos e importantes destas energias.

O ponto � que, tanto no interior quanto no exterior, a evolu��o realmente �, de muitos modos significativos, hol�rquica: ela transcende e inclui. E portanto os marcos hol�nicos da evolu��o e desenvolvimento cont�nuos - em consci�ncia, em complexifica��o da forma e em campos de energia emergentes - demostram um padr�o hier�rquico nidiforme: a totalidade de uma onda se torna uma parte da totalidade da pr�xima. A este respeito, Plotino p�s o dedo na ferida: desenvolvimento � envolvimento.

Uma vez que cada h�lon ou indiv�duo composto cont�m ou inclui a mat�ria e energia de seus subh�lons, podemos usar mais alguns diagramas para, esquematicamente, indicar o que isto pode significar. Com refer�ncia ao diagrama de campos hol�nicos de Burr, cada h�lon individual, quando emerge, tem sua pr�pria forma bruta material mais seus campos de energia associados: quanto maior o grau de complexidade da forma material, maior o n�mero de campos de energia que a cerca (hip�tese n� 3). Isto pode ser indicado como na figura 9.

Figura 9. Mat�ria e energia hol�nica

Nesta figura, que representa situa��es reais quando observadas de modo objetivo, de terceira-pessoa (isto �, h�lons no quadrante superior direito), podemos ver que cada n�vel de complexidade crescente da forma material bruta transcende-e-inclui (ou congrega) seus n�veis juniores da forma material - mas todos esse n�veis s�o indiv�duos compostos por si mesmos, e deste modo ret�m suas pr�prias assinaturas de energia, de forma que s�o formados por seus componentes materiais juniores (representados pelas esferas s�lidas) e seus campos associados de energia (representados pelos envolt�rios pontilhados).

Embora estejamos focalizando h�lons individuais e seus campos de energia no QSD, a natureza AQAL de todos os h�lons sugere claramente que devam existir, no QID, sistemas coletivos de campos de energia associados aos h�lons sociais, e acredito que existam (retornaremos a isto em se��es posteriores).

prop�sito, n�o existem campos de energia nos quadrantes do lado esquerdo, obviamente porque s�o aspectos de primeira-pessoa dos h�lons: sensa��es, conscientiza��o, consci�ncia, e assim por diante, cujas correla��es exteriores (ou do lado direito) s�o massa e energia. Todos os h�lons possuem os quatro quadrantes, o que significa que todos os h�lons apresentam interiores de consci�ncia e exteriores de forma e energia (por exemplo, at� mesmo a consci�ncia sutil tem um corpo sutil e a consci�ncia causal tem um corpo causal, etc.), mas a consci�ncia em si n�o � energia, nem energia � consci�ncia.

Terminologia

Sem d�vida, quando nos referimos a energias sutis, a terminologia rapidamente passa a ser um problema importante. Primeiro, existe uma impressionante variedade de termos usados atualmente para esses fen�menos; segundo, h� um grande n�mero de fen�menos sendo proposto; e terceiro, existe uma prolifera��o de teorias tentando explicar os fen�menos.

Temos que come�ar de algum modo; assim, vou fazer algumas sugest�es sem�nticas. Estas s�o apenas sugest�es. .

N�vel de Massa-Energia N�vel Correspondente de Consci�ncia
F�sico Bruto (gravitacional, eletromagn�tica, nuclear forte e nuclear fraca) 1. Sens�rio-motor
Et�rico, Campo-L 1 (L-1) ou Biocampo 1 2. Vital
3. Astral, Campo-L 2 (L-2) ou Biocampo 2 3. Emocional-sexual
4. Ps�quico-1 ou Campo-T 1 (T-1) 4. Mental
5. Ps�quico-2 ou Campo-T (T-2) 5. Mental Superior
6. Causal ou Campo-C 6. Sobremental
7. N�o-dual 7. Supermental

Tabela 1. N�veis de energia e consci�ncia

Um dos primeiros pontos que precisamos considerar � o simples fato que, em qualquer esquema de classifica��o, o n�mero de "n�veis" � arbitr�rio. Ao medir temperatura, por exemplo, podemos usar a escala Fahrenheit (em que existem 180 "graus" ou "n�veis" de calor entre o gelo e o vapor d'�gua) ou podemos usar a escala Celsius (em que existem 100 n�veis). Qual � a correta? Ambas s�o adequadas, desde que saibamos qual estamos usando.

O mesmo vale para n�veis de consci�ncia, n�veis de complexidade material e n�veis de energia sutil. Isto � n�o quer dizer que eles n�o sejam reais, mas simplesmente que a maneira como os dividimos � arbitr�ria. A �nica coisa que n�o � arbitr�ria, de acordo com as hip�teses n� 2 e n� 3, � que qualquer que seja o n�mero de n�veis de consci�ncia, sempre existir� o mesmo n�mero de n�veis de mat�ria-energia: eles s�o o interior e o exterior do mesmo evento.

Apresentarei algumas sugest�es de terminologia em duas partes: primeiro, uma lista do n�mero m�nimo de n�veis de energia que precisaremos a fim de cobrir a maior parte dos pontos relevantes; e, mais tarde, uma taxonomia mais refinada envolvendo fam�lias, g�neros e esp�cies.

No est�gio presente de nosso conhecimento, parecem existir pelo menos sete principais n�veis diferentes de energia. Eles se correlacionam aproximadamente com os setes chacras e s�o indicados na Tabela 1, junto com a terminologia sugerida. Retornaremos a uma taxonomia refinada mais tarde.

Involu��o e Evolu��o

Antes de nos voltarmos para alguns refinamentos deste esquema, existe um �ltimo item importante que precisa ser tratado, um item que provavelmente causou mais dificuldade te�rica do que qualquer outro, n�o s� na �rea de energias sutis, mas tamb�m na �rea global da espiritualidade e misticismo e sua rela��o com a ci�ncia moderna.

Isto �, onde se localiza o v�cuo qu�ntico neste esquema?

De acordo com a f�sica moderna qu�ntica e relativ�stica, a quantidade da densidade de energia de v�cuo contida num �nico �tomo de hidrog�nio � maior que a quantidade de energia armazenada em todas as estrelas conhecidas. Em outras palavras, uma imensid�o de energia. V�rios fatos intrigantes sobre a realidade qu�ntica como este levaram uma longa lista de cientistas - de LeShan a Capra, a Zukav, a Wolf (e dezenas que n�o ser�o nomeados) - a comparar o v�cuo qu�ntico com algo parecido com esp�rito, supermente, o Tao, Brahman, o Vazio do Budismo, e assim por diante. O resultado, em minha opini�o pessoal, foi calamitoso.

Para come�ar, vamos nos ater �s tradi��es e verificar onde elas poderiam situar realidades qu�nticas. Na teoria da Mec�nica Qu�ntica (MQ), o potencial de onda � uma vasta fonte de energia criativa que d� origem a part�culas materiais cada vez mais densas, incluindo, finalmente, part�culas como quarks, el�trons e pr�tons. E este natureza "criadora" do potencial qu�ntico leva muitos cientistas a igual�-la com uma potencialidade espiritual, um tipo de imenso campo de potenciais infinitos que � o esp�rito infinito ou consci�ncia ilimitada.

Se fosse dessa maneira, ent�o a seq��ncia da evolu��o seria algo assim: as part�culas subat�micas se originariam do potencial espiritual/qu�ntico, que, finalmente, se reuniriam em �tomos, em seguida em mol�culas, que depois formariam c�lulas, que gerariam organismos.... Em suma, nesse esquema, quanto mais elevado o n�vel de evolu��o, mais distante de Deus ele estaria.

Obviamente, h� algo errado com este esquema. Mas uma vez que voc� identifica erroneamente esp�rito com potencial qu�ntico, n�o existe nenhum outro caminho a ser seguido. Justamente porque o potencial qu�ntico n�o �, de fato, um dom�nio radicalmente informe ou n�o-dual, n�o pode assemelhar-se a uma realidade espiritual genu�na; pelo contr�rio, � simplesmente um aspecto de um reino manifesto que tem qualidades e quantidades, e, portanto, n�o � o radicalmente Inqualific�vel.

As tradi��es de sabedoria est�o fortemente de acordo e s�o virtualmente un�nimes neste ponto. N�s j� nos referimos � vis�o geral das tradi��es com respeito � emana��o (ou involu��o). Ainda que usemos a vers�o mais simples de 5 n�veis, torna-se muito �bvio o que realmente � o potencial qu�ntico.

Na involu��o ou cria��o, o Esp�rito, radicalmente inqualific�vel, decide brincar de esconder e, conseq�entemente, "esquece" de si mesmo e derrama-se para fora a fim de criar um mundo manifesto de diversidade e alteridade. Como vimos, a primeiro coisa criada pelo Esp�rito puro � a alma, que ent�o derrama-se para criar a mente, que derrama-se para criar a vida (ou prana), que, em seguida, derrama-se para criar a mat�ria insens�vel (quarks, �tomos). Ao final desta seq��ncia ontol�gica, a mat�ria passa a existir como uma cristaliza��o e condensa��o de prana.

Em outras palavras, o potencial qu�ntico n�o � esp�rito e sim prana. Mais tecnicamente, o potencial qu�ntico n�o � Esp�rito-como-esp�rito, n�o � Esp�rito-como-alma, n�o � Esp�rito-como-mente; o potencial qu�ntico � Esp�rito-como-prana, que d� origem a esp�rito-como-mat�ria.

O que os formalismos da MQ est�o captando como um breve vislumbre - meramente numa forma de terceira-pessoa, abstrata, matem�tica - � a surpreendente pot�ncia da energia et�rico-astral, da qual surge o mundo material bruto inteiro, como uma sedimenta��o e cristaliza��o. Uma vers�o disto �: quando a fun��o de onda de Schroedinger colapsa, prana d� origem � mat�ria. Mas independentemente de como a concebamos, esta � a interface particular ativada.

A Doutrina das Duas Verdades

O Problema

Desse modo, tal parece ser o caminho mais simples e mais f�cil para unir o melhor das tradi��es de sabedoria e ci�ncia moderna nesta �rea espec�fica. Por outro lado, a no��o simplista e dualista de que existe, por exemplo, uma ordem implicada (que � espiritual e qu�ntica) e um ordem explicada (que � material e newtoniana) causou enorme confus�o, e ainda est� causando. At� David Bohm, que introduziu essa no��o, acabou finalmente dando tantas voltas, que a tornou irreconhec�vel.

Acabamos de ver que, para as tradi��es, o lado da energia da Grande Cadeia do Ser significa que prana � implicado para a mat�ria-energia bruta (que � explicada para prana). Por sua vez, a energia ps�quica � implicada para prana (que � explicado para a energia ps�quica). E, claro, a energia causal � implicada para a dimens�o ps�quica (e para todas as inferiores) - "causal" � chamada assim porque � a causa, o come�o, a geratriz criadora da seq��ncia manifesta completa. Portanto, cada dimens�o na Grande Cadeia � implicada para sua j�nior e explicada para sua s�nior - uma no��o claramente apresentada por teoristas desde Fa-Tsang a Plotino, a Schelling.

Mas se voc� considerar a f�sica como sendo absoluta (isto �, se confundir as duas verdades [vide abaixo]), ent�o colapsar� a Grande Cadeia simplesmente numa ordem implicada e noutra explicada. E um dos muitos problemas com este esquema grosseiro, como vimos, � que se voc� igualar realidades qu�nticas a um tipo de For�a Criadora espiritual suprema, ent�o como este "esp�rito" origina �tomos, que originam mol�culas, que originam c�lulas, que originam organismos, e assim por diante, quanto mais alta a evolu��o, mais distante de Deus voc� est�.

Bohm percebeu isto vagamente - e percebeu que sua "ordem implicada," justamente por estar dissociada da ordem explicada, realmente n�o poderia representar nenhum tipo de genu�na realidade espiritual n�o-dual. Ele ent�o inventou um terceiro dom�nio, a "ordem superimplicada", que seria o dom�nio espiritual n�o-dual. Portanto, passou a ter tr�s n�veis de realidade: explicado, implicado e superimplicado. Mas porque estava pouco familiarizado com as sutilezas de Shunyata (vide abaixo), ele ainda ficou ref�m de no��es dual�sticas (porque ainda tentava qualificar o inqualific�vel). Ent�o, adicionou mais um epiciclo: "al�m do superimplicado," dando-lhe quatro n�veis de realidade.

Lentamente, Bohm retornou a uma vers�o grosseira da tradicional Grande Cadeia, que mant�m que cada dimens�o s�nior � implicada para suas juniores. Mas tudo isto deveria estar baseado na f�sica, o que significa que Bohm realmente envolveu-se num colossal jogo reducionista que devastou os n�veis intermedi�rios reais da Grande Cadeia (por exemplo, o n�vel 2, que � tratado pela biologia e o n�vel 3, tratado pela psicologia, s�o todos reduzidos a vari�veis ocultas em formalismos de massa-energia bruta da MQ). Isto n�o � a uni�o de ci�ncia e espiritualidade, mas a uni�o de f�sica ruim com misticismo ruim.

Solu��o Sugerida

Como sugerido, esta equipara��o de realidades qu�nticas (ou subquantas, ou cordas, ou simetria) com algum tipo de Esp�rito n�o-dual talvez seja a maior confus�o te�rica de todo o campo. Primeiro, porque confunde a natureza da involu��o e evolu��o e, conseq�entemente, confunde o in�cio da seq��ncia involucion�ria - isto �, esp�rito causal - com o in�cio da seq��ncia evolucion�ria - isto �, o v�cuo potencial (ou algo assim), que realmente representa Esp�rito-como-prana, n�o Esp�rito-como-esp�rito. Na terminologia dos chacras, esta vis�o confunde a imensa potencialidade criativa da Kundalini aninhada na base da coluna vertebral (muladhara) com a Kundalini no topo da cabe�a (sahasrara). J� sabemos que ambas s�o Kundalini; mas muladhara simplesmente n�o � o mesmo que sahasrara.

Mas em segundo lugar , e mais importante, viola a doutrina das duas verdades.

Em �ltima an�lise, as tradi��es s�o muito claras ao afirmar que o "primeiro passo" na manifesta��o involucion�ria � realmente um Mist�rio n�o-dual que n�o pode de maneira alguma ser adequadamente captado (ou mesmo insinuado) pela verdade convencional, incluindo qualquer tipo de ci�ncia, pensamento de vanguarda, etc. A raz�o � que as grandes tradi��es, desde Parm�nides a Padmasambhava, s�o un�nimes naquilo que o Vedanta chama a doutrina das "duas verdades": isto �, existe uma verdade absoluta ou n�o-dual e uma verdade relativa ou convencional, e elas s�o de ordens radicalmente diferentes. A verdade relativa est� preocupada com situa��es no dom�nio finito, tais como "mol�culas da �gua cont�m um �tomo de oxig�nio e dois de hidrog�nio," ou "a Terra est� a 93 milh�es de milhas do Sol," ou "o potencial do v�cuo qu�ntico no raio de um angstrom � igual a 10 2300000 ergs," e assim por diante. De acordo com Nagarjuna, Shankara e Plotino, voc� pode fazer afirma��es verdadeiras ou falsas sobre tais eventos finitos, e a verdade no reino relativo � realmente uma procura das condi��es sob as quais afirma��es relativas s�o verdadeiras. Isto � verdade relativa, finita ou assertiva.

O que n�o acontece com a verdade absoluta, sobre a qual, literal e radicalmente, NADA pode ser dito com precis�o de modo n�o-contradit�rio (inclusive esta afirma��o: se ela for verdadeira, � falsa). Os grandes dialetas transcendentais - de Nagarjuna a Kant - demoliram completamente quaisquer tentativas, mostrando que qualquer uma delas que tente categorizar a realidade suprema (como, por exemplo, afirmando que ela � um potencial de energia qu�ntica) volta-se contra si mesma e dissolve-se numa regress�o ad absurdum ou ad infinitum. Eles n�o afirmaram que o Esp�rito n�o existe, mas simplesmente que qualquer declara��o finita sobre o infinito definitivamente n�o funcionar� - n�o da mesma forma que declara��es sobre verdades relativas ou convencionais funcionar�o. O Esp�rito pode ser conhecido, mas n�o falado; visto, mas n�o explicado; assinalado, mas n�o descrito; percebido, mas n�o reiterado. Verdades convencionais s�o conhecidas pela ci�ncia; a verdade absoluta � conhecida pelo satori. Elas simplesmente n�o s�o a mesma coisa.

Para Nagarjuna, o Real � shunya (vazio) de tais categoriza��es. Para Shankara, uma vez criado o mundo de maia, voc� n�o pode fazer nenhuma afirma��o sobre maia: quando voc� est� em maia, tudo que diz � falso; quando acorda, n�o existe maia - em ambos os casos, voc� n�o pode fazer uma declara��o sobre maia (nem, portanto, sobre o "criador" de maia). Para Plotino, o"Um" n�o � "um um num�rico" - em outras palavras, o "Um" � apenas uma met�fora po�tica para Q�ididade, n�o um modelo real de Q�ididade. (O potencial do v�cuo, por outro lado, � um modelo, n�o uma met�fora.)

Em resumo, existe a verdade absoluta ou n�o-dual e existe a verdade relativa ou convencional; n�o se pode simplesmente considerar uma afirma��o da �ltima e aplic�-la � primeira. Quando usamos palavras finitas para tentar representar a Q�ididade suprema, o m�ximo que conseguimos � uma met�fora po�tica (ou afirma��es metaf�ricas), mas o absoluto s� � conhecido por experi�ncia direta que envolve uma transforma��o da consci�ncia (satori, sahaj, metan�ia); e "o que" � visto em satori n�o pode ser declarado em palavras dualistas ordin�rias a n�o ser por met�foras, poesia e sugest�es (se quiser conhecer Deus, voc� deve despertar, n�o meramente teorizar). Verdades convencionais e cient�ficas, por outro lado, s�o assertivas, n�o metaf�ricas; elas trabalham com modelos, n�o poemas; elas s�o finitas, dual�sticas, e convencionais - tudo isto � bom quando direcionado ao dom�nio finito, dual�stico, convencional.

O Upanishads concorda: nirguna Brahman � "um sem um segundo," n�o "um entre muitos." O potencial do v�cuo tem um segundo (ou um "outro," isto �, a mat�ria bruta); mas Brahman n�o tem tal segundo, e portanto Brahman decididamente n�o pode ser identificado com alguma coisa qu�ntica. N�o pode ser conhecido por conhecimento assertivo ou metaf�rico, s� pelo despertar. At� mesmo chamar Brahman de "infinito" n�o est� correto, pois a palavra "infinito" s� tem significado em fun��o de sua oposta ("finito"); assim, defini��es como "informe, vazio, infinito, inqualific�vel, n�o-dual" s�o, de fato, essencialmente dualistas. O Zen tenta sugerir isto dizendo que o absoluto � "n�o dois, n�o um."

Infelizmente, os f�sicos que come�aram a comparar realidades qu�nticas com o Tao estavam simplesmente despreparados para as sutilezas filos�ficas das grandes tradi��es. Curiosamente, os f�sicos originais e pioneiros - de Schroedinger a Planck at� Einstein - recusaram-se a fazer tal confus�o - isto �, recusaram-se a identificar as descobertas da f�sica qu�ntica ou relativ�stica com qualquer tipo de realidade espiritual (como descobri quando editei seus escritos sobre espiritualidade: vide Quantum Questions: The Mystical Writings of the World's Great Physicists). Novamente, eles n�o negaram o Esp�rito - exatamente o contr�rio - mas reconheceram que afirma��es sobre o dom�nio relativo n�o s�o da mesma ordem que as do dom�nio absoluto, e conseq�entemente, confundi-los � prejudicial a ambos.

Assim, o potencial do v�cuo � parte do dom�nio manifesto, finito, relativo. Exatamente por esta raz�o pode ser estudado pela ci�ncia. � uma realidade que, pelo menos de algumas maneiras, � diferente de outras realidades; possui qualidades; quantidades; dimens�es. Nenhuma destas caracter�sticas pode ser atribu�da � Q�ididade, a n�o ser por met�foras po�ticas. Entretanto, os campos et�rico, astral e ps�quico, justamente por serem partes reais do mundo manifesto, s�o objetos adequados de estudo da ci�ncia. N�o h� nenhuma contradi��o em afirmar-se que o v�cuo qu�ntico � a protuber�ncia no dom�nio bruto de sua ordem implicada s�nior: ou seja, prana.

Isto posto, creio que podemos continuar em dire��o a uma teoria verdadeiramente integral de energias sutis.

Resumo da Realidade Qu�ntica

Seguindo os grandes s�bios-fil�sofos (como Nagarjuna, Plotino e Shankara), podemos resumir as raz�es por que quaisquer tipos de eventos qu�nticos ou subqu�nticos n�o s�o o Esp�rito:

  1. A realidade qu�ntica apresenta caracter�sticas, qualidades ou dimens�es que a diferenciam da mat�ria manifesta; mas o Esp�rito � radicalmente shunya de drsti (vazio de quaisquer qualidades, inclusive desta caracteriza��o) - por exemplo, o v�cuo qu�ntico possui imensa energia, o Esp�rito � inqualific�vel.
  2. A realidade qu�ntica difere, em importantes pontos, da mat�ria bruta; mas o Esp�rito n�o � diferente de nenhuma manifesta��o; ao contr�rio, � a Q�ididade ou Ess�ncia de tudo que surge.
  3. A realidade qu�ntica possui um oposto (a realidade n�o-qu�ntica), mas o Esp�rito � radicalmente n�o-dual.
  4. O Esp�rito � adimensional; a realidade qu�ntica encontra-se simplesmente numa dimens�o diferente.
  5. E, o mais importante, a energia material qu�ntica prov�m diretamente de prana, n�o do Esp�rito (isto �, a mat�ria cristaliza-se a partir do Esp�rito-como-prana, n�o do Esp�rito-como-esp�rito).

Por outro lado, perceber que eventos bruto-relativ�stico-qu�nticos s�o eventos de superf�cie, ou manifesta��es de um campo de energia et�rica, permite-nos considerar adequadamente estes eventos, de modo consoante com: as grandes tradi��es de sabedoria, a vanguarda da ci�ncia, o corpo de conhecimento das energias sutis e sua reinterpreta��o AQAL. A massa-energia bruta � uma manifesta��o superficial de campos et�ricos, que s�o superficiais em rela��o a campos astral-ps�quicos, que s�o superficiais ao causal, que � o misterioso v�u inicial sobre a Face Original do Esp�rito, � medida que se manifesta como mundo, a cada momento....

Tradu��o de Ari Raynsford